Após assistir o filme, chegamos a algumas conclusões que não passam exatamente por fórmulas ou preceitos técnicos a respeito da nutrição ou biologia. O filme trata sobretudo de comportamento numa sociedade consumista.
Dentro desse contexto, o que talvez mais revolte o assistente seja o comportamento de pais absolutamente ignorantes a respeito de uma alimentação saudável. Em vários momentos do filme os filhos – obesos ou em sobrepeso – relatavam a quantidade de guloseimas que comiam diariamente e os pais, muitas vezes ouvindo junto esses relatos, apenas sorriam orgulhosamente por poderem proporcionar isso aos filhos e por sentirem-se realizados em ver seus filhos bem alimentados.
Esses pais, assim como as próprias crianças, são educados pela mídia, pela propaganda das indústrias alimentícias, pelas embalagens coloridas dos corredores de doces e salgadinhos. É compreensível que as crianças não possuam o discernimento para optar entre o certo e o errado, mas é difícil entender como que, numa era em que a informação está amplamente disponível, vejamos adultos colocando Coca-Cola na mamadeira de bebês – e aqui não há distinção entre classes sociais, todos embarcam no mesmo sacrilégio.
Além da ignorância dos pais, mais alguns temas abordados nos chamaram a atenção. Primeiro que, atualmente, os filhos mandam nos pais. É muito tênue a linha que separa o amor fraternal da subserviência às crianças. As crianças não precisam só de carinho e atenção, elas precisam de limites. Se estes não forem impostos, o excesso sempre ocorrerá em atividades prazerosas, principalmente na alimentação.
As surpresas não param por aí. Causou-nos espanto ver crianças de 9, 10 anos de idade desconhecerem uma batata, uma cebola, uma beterraba. Essas crianças nunca entraram numa horta? Não vão ao supermercado? O que elas assistem na televisão, não tem nada educativo? Em que mundo vivem? E, voltando ao primeiro parágrafo desse texto, de que raios os pais riam ao ver os filhos errarem o nome de uma abobrinha?
O filme trabalha também, e muito bem, a relação criança - mídia - propaganda. A associação entre alimentos gordurosos e extremamente açucarados com personagens infantis de filmes e desenhos animados é um trunfo importante para a sedução infantil. Os pais não sentem-se encorajados a dizer “não” aos filhos devido a vários motivos: não querem que seus filhos sejam diferentes das demais crianças; não querem passar a imagem de pais ruins aos filhos; não sabem a quantidade de porcaria que tem dentro das embalagens; ficam envaidecidos em poder atender os filhos sendo remetidos ao passado quando também eram crianças e não podiam usufruir do que agora oferecem.
Calma que tem mais. O filme surpreendeu-nos também mostrando crianças com doenças e ou sintomas de doenças típicas de adultos: colesterol elevado, diabetes, trombose, hipertensão arterial, etc. etc. Seres humanos em tenra idade apresentando esses problemas não devem esperar uma vida longa sem mudanças radicais de estilo de vida.
Você, meu leitor, deve estar pensando: puxa que filme intenso, mostra tudo isso é? Pois eu digo que ainda não acabou. O grupo ficou surpreso também com o grau de sedentarismo das crianças. As atividades físicas são remotíssimas para não dizer nulas. O dia a dia resume-se à televisão e internet. Com isso, a matemática é cruel: ingestão de milhares de calorias diárias e gasto calórico insuficiente para tamanha oferta. O resultado: acumulação do excesso em gordura, muita gordura corporal.
Aliás, a quantidade de gordura e de açúcar nos alimentos industrializados ficou muito bem demonstrada no filme. Em diversos momentos uma jornalista mostrava aos entrevistados a quantidade de açúcar e de óleo presente dentro de embalagens de refrigerante, biscoitos e salgadinhos. As crianças e os pais que recebiam a informação mostravam-se surpresos, mas em poucos momentos vimos afirmações de que não comeriam mais tais alimentos.
Após explanados os principais aspectos abordados no filme, restou ao grupo uma constatação que sobrepõe-se a todas as demais: a educação daqueles que deveriam ser os educadores. A falta de controle paterno, a ignorância dos adultos, a submissão dos pais aos filhos, enfim, esses comportamentos é que são os vilões das barrigas exageradas das crianças atuais. Não adianta ficar brigando contra a Coca-Cola, contra o Mac Donald´s ou contra a Nestlé. Essas empresas são gigantes e querem apenas continuar lucrando, pouco se importando para a saúde pública – elas pagam pesados impostos para sustentação do SUS e isso as deixa pseudo confortáveis. O que adiante é educação, é investimento nos pais, na qualidade de informação que chega aos cuidadores. Não achamos graça de nenhuma criança que não sabe o que é uma batata, pelo contrário, sentimos raiva dos pais que acharam graça de tamanho absurdo. É por aí que passa a solução do sobrepeso e da obesidade infantil, em campanhas educativas aos pais. Esse filme pode ser um começo, mas ele não passará nas grandes redes: elas são patrocinadas pela Coca-Cola, pelo Mac Donald´s, pela Nestlé...
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